19 de abril de 2011

A mamãe é a mimada da história

Neste mês foi o aniversário da Sofia. Um dos presentes foi um jogo de pescaria com tintas e pincéis para pintar os pescáveis.

A Sofia adorou pescar, mas eu me animei mais com a idéia de pintar. Escolhi um dia de sol, cancelei meus compromissos, cobri o chão com jornal, separei as tinhas, pincéis, água e pensei: “que sorte a Sofia tem de ter uma mãe que pode brincar com ela em plena segunda-feira”.

Começamos a brincadeira. Depois de duas pinceladas, a Sofia resolveu espalhar a tinta com o dedo, depois na perna e em seguida mergulhar a mão na água. Pedi para ela parar de sujar tudo.  O próximo passo foi virar o pote inteiro de tinha no chão.

Fiquei muito brava com ela. Depois fiquei emburrada com o sentimento irracional de que a Sofia era muito mal agradecida. Afinal, eu estava dedicando um tempo que para mim era complicado e ela estava se comportando mal (alguém pode me explicar quem é a criança?). Depois de um tempo a Sofia olhou para mim, levantou as mãozinhas para cima, inclinou o corpo para frente e disse repetidamente: “mais, mamãe!”, como quem diz: “você não está sendo razoável.”

A minha ficha começou a cair. A Sofia nunca amou pintar, eu é que gosto. Então por que ficar frustrada quando ela não responde da maneira que eu esperava? E, pior ainda, será que só porque eu reservei um tempo durante uma semana conturbada eu posso escolher o que vamos fazer e ela precisa se comportar como princesa para mostrar o quão grata ela está por eu dedicar o meu disputado tempo exclusivamente a ela? 

Aprendi uma grande lição com essa história: realmente é uma pena que poucas mães podem brincar com seus filhos durante a semana. Mas, muito pior do que não ter tempo para brincar é as crianças terem que pagar a conta das nossas vidas insanas. 

As crianças também precisam ter o direito de escolher a brincadeira. Sempre que as pessoas vão comprar um produto YOUandME e me pedem indicação sobre o que dar, eu respondo com a pergunta: “o que a família gosta de fazer?”. Porque de nada adianta dar um kit Cozinha quando ninguém na família gosta de cozinhar. Mas, a pergunta é para a criança também. Porque de nada vale criar expectativas ao redor de uma brincadeira, se a criança não gosta da atividade. Claro que precisamos estimular todas as áreas para ajudar nossos filhos a descobrirem suas verdadeiras paixões. Mas, forçá-los quando percebemos que a atividade vai contra a sua natureza ou talvez contra a sua faixa etária, simplesmente porque gostaríamos de brincar disso com nossos filhos, acabou levando a uma inversão de papéis. Eu fui a criança mimada da história.

Sofia, de agora em diante, vamos escolher juntas como preencher nosso precioso tempo. É uma promessa.