Se durante a gravidez a pergunta que eu mais respondi foi "é menino ou menina?", depois que a Helena nasceu a pergunta da vez foi "nasceu de parto normal ou cesárea?". Diante da inevitável resposta, "foi cesárea", vinha uma nova pergunta: "Não deu para ser normal?".
Há algum
tempo ando incomodada com o preconceito contra partos de cesariana. Vira e mexe
ouço por aí a ideia de que a criança que vem ao mundo através de uma cesárea
sofre uma agressão ou que a mãe deixa de liberar o "hormônio do amor" no momento do parto. Para uma mãe que passou por duas cesáreas, esse pensamento é um
tapa na cara.
Recentemente
surgiu o tema “parto normal vs. cesárea” em uma comunidade de mães de que faço parte no Facebook . Tudo começou com um vídeo a favor do “parto natural” no qual, em meio a depoimentos de especialistas a favor do parto natural, o ator Marcio Garcia e sua esposa narram o traumático parto de cesárea do seu
primeiro filho e o feliz parto natural (em casa) do outro filho. O
tema pegou fogo e eu fiquei impressionada com o número de mães que se sentem
frustradas por terem feito uma cesárea. Como eu também me sentia assim, resolvi revisitar
minha história:
Minha mãe
teve quatro filhos de parto normal e eu assumi que eu também teria meus filhos
desta forma. Já tinha tudo planejado:
Cena 1: eu em casa dormindo tranqüila.
Cena 2: contrações, correria para a maternidade, mais contrações,
empurra daqui, respira dali, mais um empurrão forte e surge o chorinho do meu
bebê.
Cena 3: Lágrimas e abraços ensangüentados. Sobem os créditos.
Mas na vida
real, não aconteceu assim. Na minha primeira gravidez fizemos uma indução de
parto com 39 semanas. Pelos dados do ultra-som a bebê estaria perdendo peso,
minha placenta estava madura e o líquido baixo. Após 15 horas de indução, 13 horas de bolsa rompida e apenas
2 dedos de dilatação fui para a faca com lágrimas de frustração nos olhos.
Na minha
segunda gravidez eu estava decidida. Seria parto normal. Na semana 41 comecei a sentir contrações fortes. Fiquei tranqüila, só
esperando. As contrações ficaram mais fortes e próximas. Fui para o chuveiro. De repente, vi sangue. Nesse momento as contrações
estavam de 3 em 3 minutos. Liguei para o meu médico que mandou eu ir para a
maternidade. Começou a correria. Tudo conforme o planejado! Na maternidade me encaminharam para uma salinha onde uma enfermeira do hospital me
examinou. Eu estava confiante. A enfermeira confirmou: contrações fortes e
regulares. Dois em dois minutos! Perfeito! Então se preparou para fazer o exame
de toque. Procurou, procurou e falou: “você não tem dilatação e a bebê está tão
alta que não consegui tocar a cabecinha dela. Não sei avaliar se o sangue que você está perdendo é do tampão ou de algum descolamento e nem se a bolsa já estourou". Ela continuou: “quem é o seu
médico”? Respondi e ela ligou. Escutei ela contando toda a história novamente, mas
incluiu um novo fato que eu desconhecia “os batimentos cardíacos da bebê
já estão lentos”. Meu médico chegou em poucos minutos, me examinou, olhou
novamente todos os dados e concluiu: "posso esperar mais duas horas para ver
como evolui o quadro, mas se continuar tudo igual,
teremos que partir para uma cesariana pois não é seguro manter o bebê neste quadro".
De
repente, as contrações deixaram de fazer parte do roteiro perfeito que eu
havia imaginado e se tornaram insuportáveis. A ideia da minha bebê estar
sofrendo, dos batimentos estarem lentos, de algo poder estar errado lá dentro
me deixou em pânico. Esperar duas horas se tornou algo impensável. Não
agüentava nem mais um minuto, nem mais uma contração. Queria ver a minha filha
e tinha que ser AGORA! Então eu arreguei. “Corta já” eu disse. “Cadê o
anestesista?!”
Sentei na cama do centro cirúrgico. Mal conseguia
relaxar para tomar a anestesia. Tive enjôo, a pressão caiu. O obstetra entrou
na sala e começou a cirurgia. Relaxei. Em menos de 5 minutos eu ouvi o
chorinho e os médicos dizendo: “nem saiu o corpinho e ela já está chorando, que
menina saudável!” Meu coração pulou de alegria. Segurei ela e com a experiência
de já ser mãe. Coloquei a Helena no peito e ela começou a sugar
imediatamente. Tivemos uma conexão de amor instantânea e incrivelmente forte. Viramos uma só, foi mágico.
Revisitando
a minha história e percebi que fui eu que não encarei o parto normal. A aflição de que algo poderia acontecer
com a minha filha era bem maior do que o meu sonho de ter o parto de cinema.
Talvez, se eu tivesse insistido mais duas horas, minha filha teria nascido
"de parto normal". Talvez, se eu tivesse escolhido o médico do filme do Márcio Garcia, minha filha teria nascido de parto natural na banheira de casa. Mas, com certeza essas escolhas não teriam feito o meu amor pela Helena ser maior.
E aí fica o
meu conselho para as mães de cesárea: parem de se martirizar e se culpar.
Tenham orgulho de ter gerado essa vida. De cuidar e de amar seus filhos. Tenham
certeza de que eles não são traumatizados por terem nascido de cesárea.
Tenham orgulho da cicatriz da sua cesárea. Eu faço questão de mostrar para a
minha filha de 3 anos e dizer que esse corte é lindo de morrer porque por ele
saíram as pessoas mais importantes da minha vida.
Xô
frustração, celebrem a maternidade!