26 de outubro de 2011

Minha filha virou uma princesa, e é tudo minha culpa

Como é diferente ser mãe na teoria e na prática. Antes da Sofia nascer, imaginava que minha filha seria educada longe do mundo de consumismo, que impõe estereótipos e cria adultos pouco criativos. Seria uma criança mais “alternativa” com roupas descoladas e brinquedos feitos de madeira. Nada de roupas com lantejoulas, tênis pink com strass e fantasias de princesas da Disney. Aliás, Disney só depois dos 6 anos, antes disso ela passaria longe desse mundo de felicidades construídas.  Eu seria uma mãe alternativa. Palmas para mim!

Ainda pequena ela ganhou suas primeiras roupinhas com brilho. Por volta dos dois anos assistiu ao desenho da Branca de Neve e adorou a princesa. Logo ela assistiu Enrolados (filme da princesa Rapunzel) e em seguida o filme da Bela e a Fera. Foi então que a Sofia começou a reproduzir o que ela via nos desenhos: as frases, os movimentos das princesas, as cenas dos filmes. Perto dos três anos ela ganhou da avó o seu primeiro vestido de princesa feito de tecido sintético, com camafeu de plástico com a foto da princesa e brilhos. Ela amou. Em seguida veio o da Bela Adormecida (que espalhou purpurina pela casa toda), o da Cinderela e depois o da Bela. Com a ajuda das fadas madrinhas, a Sofia tem hoje uma coleção de fantasias. Vestir calça ou shorts? Só se for por baixo do vestido!

O mais curioso de tudo isso não foi ver a idealização da filha alternativa e desconectada do mundo Disney ir por água abaixo, mas sim a minha reação com tudo isso. Decepção? Que nada! Certo ou errado, comecei a perceber que o meu coração batia forte quando via a Sofia vivendo suas fantasias, acreditando que é uma princesa e que seu pai é o príncipe encantado. Quando ela aparece com o vestido amarelo de Bela e sua sandália de laço, não posso deixar de achar incrível como a pureza e a sinceridade da Sofia transformam esses vestidos cafonas em algo tão irresistível e mágico.

A cereja do bolo foi quando descobri que estava grávida novamente e, junto com a vontade de comer sem parar, bateu uma necessidade incontrolável de levar a Sofia, aos três anos de idade, para a Disney. No auge da loucura da gravidez, achei que ela precisava ver as princesas que tanto gostava, acreditando que são realmente de verdade. Era uma questão de vida ou morte. O que aconteceu comigo?!

Com o tempo fui baixando a guarda e percebendo que dá para ensinar valores bacanas para uma menina fantasiada de princesa Bela. Outro dia estávamos num clube na represa Guarapiranga e eu sugeri: “vamos nadar”. A Sofia respondeu: “não quero nadar na piscina, quero nadar na natureza”. Tentei explicar que a represa não estava muito limpa, porque infelizmente o “homem” jogava muito lixo nela. Então ela quis saber se era o “homem das sombras” (o vilão do desenho “A Princesa e o Sapo” da Disney, claro) que tinha sujado a represa. Expliquei que “o homem” éramos todos nós e que por isso ela tinha que jogar menos coisas fora. Aí ela respondeu: "então eu não vou mais vou desenrolar e bagunçar todo o papel higiênico" - coisa que ela adora fazer - "vou usar só o que precisa, para não sujar a represa". Aí tive certeza de que os vestidos de paetês de princesas da Disney combinam perfeitamente com uma educação que estimula a formação de adultos com valores que valem a pena.


Palmas para os vestidos cafonas!