1 de maio de 2012

Passeio Cultural com os Pequenos

Sempre acreditei que bebês e crianças são capazes de absorver estímulos culturais como esponjinhas. Enquanto  nós adultos tendemos a ter um olhar racional e ansioso para entender a lógica de cada obra, as crianças olham com os sentidos. As cores, os aromas as texturas tudo isso é encarado pelas crianças como uma nova experiência. Por isso adoro ver as escolas trabalhando artistas e suas obras desde os primeiros anos de seus alunos.

Infelizmente, na correria do dia a dia, frequentamos muito menos do que eu gostaria eventos culturais com as nossas meninas. Mas, no fim de semana passado aproveitamos o dia chuvoso e sem compromissos para sacudir a poeira e organizar uma ida à exposição da artista plástica Lygia Pape na Estação Pinacoteca.


Começamos pela instalação "Ttéia".  Lygia Pape buscou inspiração no movimento caótico e na constante transformação das cidades para criar uma rede de fios de cobre que se entrelaçam formando teias que mudam de visual conforme o ângulo do nosso olhar. Apesar da complexidade da mensagem a obra conquistou o olhar inocente da  Helena, de apenas 5 meses. Os fios de cobres tencionados formando raios que se cruzam dando a impressão de constante movimento deixam qualquer móbile da Fisher Price no chinelo.

A obra que mais despertou o interesse da Sofia de 4 anos foi a "Roda dos Prazeres". Tigelas de porcelana com líquidos coloridos são dispostas formando um círculo. Ao olhar ela mesma disse: "olha só mamãe, as gelatinas estão em "circle" que nem a gente faz na escola." E depois completou: "parece a mandala que a gente pintou no Dia da Família" (atividade feita na escola). Mas a empolgação veio mesmo quando ela descobriu que poderia experimentar o sabor "das gelatinas". Confesso que a aparência já empoeirada daqueles líquidos me embrulhou o estômago, mas não podia podar essa vontade de descobrir da minha filha. Então coloquei mini gotinhas na minha mão e deixei ela lamber. "Que delicioso, que delicioso", dizia ela andando ao redor do circulo.

Por último, a obra "O Livro do Tempo" mexeu comigo e com o meu marido. A obra traz inúmeros quadrados de madeira recortados e pintados de formas diferentes. Essas intervenções fazem com que cada quadrado assuma uma aparência única. Pelo lado racional, fiquei impressionada com o fato de um mesmo quadrado dar origem a tantas formas diferentes. Pelo lado emocional, fiquei tocada pois para mim cada um daqueles quadrados parecia significar um evento da vida, como se fosse um registro de um acontecimento, uma fotografia de um momento. Juntos todos aqueles quadrados pareciam contar a história de uma vida, marcando a passagem do tempo, formando o "Livro do Tempo". Todo esse estímulo me fez pensar sobre o meu próprio "Livro do Tempo", e junto veio uma angústia: as páginas do MEU "Livro do Tempo" parecem estar virando mais rápido do que eu gostaria. As meninas crescem num piscar de olhos, as fotografias da vida acumulam, nos atropelam e quando vemos nosso painel está cheio, lotado de registros, sentimentos, acontecimentos que muitas vezes nem conseguimos digerir, ou melhor, degustar. Acho que meus próximos posts serão uma reflexão sobre a passagem do tempo. Aguardem.

Fica a dica: 
Exposição Lygia Pape Espaços Imantados
- até dia 12/05/2012 na Estação Pinacoteca (São Paulo)-